sábado, 8 de dezembro de 2007

I - De soslaio

No duro, o que eu queria ser
era olhar: janela de carro funerário,
estrela brilhante de céu anil do cerrado,
cúpula vítrea de boneca de princesa,
amarra do prisioneiro que rompe a língua e a corda,
assustado o pássaro de vôo súbito liberto,
a cesta de sexta depois do trabalho
e a Maria sem graça da cozinha.

Queria mesmo era me por no meu lugar
e saber até que eu não posso
Mas nem nisso devo pensar
em mim não cabe a vossa ultrajante idéia de menorização judiciosa
Ah, não, não cabe na minha cautela
todo o meu espantar, a minha loucura da saudade,
a minha zanga de prazer em quedar os desejos trinilantes,
a minha enorme falta de tato e faro civilizatório pede por ser
posta à vista, pede por ser dileta por músicos e soldados
Ai, ai, saudade dos tempos em que se podia dançar um frevo na rua e ninguém achava demais!
De ontem pra então só me incidem as maneiras sóbrias de olhar
que olhar pútreo é esse que exige de mim a vontade de te matar
por tanto que não me és.

Quero ver o sol nascer nessa falta de alento nos espíritos
fosforilantes e fáceis a se esquecerem a si ‘flocos’...

Assim ainda vocês vão ser?
Intimados ao grave som plúmbeo
da tuba, bravejante da farsa, da falácia!
Ouve o som da natureza, assenta.
Por que não se deixa morrer?
Não é sorte, é deixar-se morrer, perecer o olhar
numa folha caída, na piada sem graça do chefe,
no vídeo cassete que agora é alma de fora que fala.

Mas faz-se, e desfaz-se para refazer-se na discussão
das feitorias e atitudes de um homem que não foi...
Mais ainda, mais uma vez bate a martelada a mesa,
e corre essa leva de conversa besta
que toma o tempo do jogo de falar com estranhos
uma perturbação fractal.

Se pode me dizer, afirmar e comprovar
o tamanho da sua força,
quando bate o seu coração
foge ele ao compasso, quantas vezes por semana?


II-
Abre a porta, mariquinha.