quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Apresentação

UM

À Suprema Vontade Comum, é para isso que meu cérebro tem se empenhado em concretizar na condição de comandante chefe. Como se não existisse possibilidade outra que não, sim, a minha. Que outra ? Melhor não há! Até que então concebo a sua existência.

Há pouco eu não era, melhor, era o que você quisesse. Daí então vem o indivíduo super confiante que tenta dominar, saber e persuadir as intenções de um monólito; das intenções minhas, são sempre muito justas e cabíveis, sempre cabíveis. O incômodo, a marca grossa, o desrespeito ao outro eu vejo como uma imcompatibilidade gênica, assim como eu não sou modesto e você é menor, você, assim, "doido", e eu tendo o que falar.

E como é fácil me ganhar, fácil eu faço por você, dê-me somente a chance de atestrar a pureza do espírito aos deuses e proclamar somente a verdade. Eu andei praticando exercícios de grosseria, estupidez e desacato pelas ruas e passantes. Mostrar-me um tratante, coitado, de embate com minha natureza polida e cristã, um sacerdote com tudo comovido, de dar dó até em planta. Misericórdia - coitado -, se só aprende o homem no chamuscar da dor.

MESMO que me pego em jogo de Jesus e as criancinhas, Mestre e pupilo; à procura da palavra que arrebata (Teoria é assombro), a palavra que acalente, o gesto curandeiro e denotativo - que seja dito o mal -; à contraparte, atento para o raro ato de ouvir, de deixar falar, a ousadia de questionar a verdade do ser outro - o outro como inexistente, marca Lacan -, de chamar por atenção e esquecê-la, de perceber na impessoalidade do despontar docente a particular dificuldade de cada aluno, a devida e una linguagem de ensino congregadas num só discurso. Talvez a tarefa mais árdua no professorar. Ensinar exige a corporeificação das palavras pelo exemplo, e pena nada monta.

DOIS

Enquanto escrevo - Chopin ainda quer amar - ouço música para pensar em silêncio. Ganham-me os assomos, derivados da mente irriquieta. Não me apetece o talho da loucura, é ramo na haste pesada.

O mundo eu carrego nas costas com disciplina de raro discípulo - por mim e por você. Arrastado pelo tempo ou no encalço atrasado da vida, na cabeça um metrônomo marca preciso a extenção de toda expressão, regente ditatorial da dinâmica social. Um juiz detêm preso e fixo o pensar e anota "o que excedeu fez bem", e se fugisse ao clichê poderia mais; o que não falou ele anotou como passivo e menor e por isso merece reparo. Tenho que aprender a ser só com os outros. A palavra final é do silêncio, não há que ganhar no grito.

Entre mim e ti precede o Eu, escultor de carrara. Atartarugado a mover-me em águas sempre tão profundas em marcha perpétua ao infinito. Menino outonal quer desterrar-se da pequena cidade, do colo da mãe, do passivo mundo das idéias. Agora tem o alvitre para amar ou ficar.

Desarrumo minhas querelas com aquele do espelho. Se dano a pensar não sou. Ponho e reponho nas prateleiras da memória o que um dia me foi. E rumo, faço-me das maneiras mais óbvias. Paro, volto a me fazer. Aquele no espelho resplandece em coragem, sua sagacidade rasga, num fio de olhar, a minha sombra. Ele me dobra e coloca no bolso.

3 comentários:

Gal disse...

Então, eles entram em batalha diária.
mentira, nao entram não.
Eles não tem porque não se amarem, são as duas partes de um todo que não sei se é ou se só tenta, mas é errante como todos nós.
Ele, o inteiro, não existe na cabeça do manipulador dos fantoches.Mas eu, como máxima conhecedora, acredito que ele inteiro eciste sim.
Tá tímido, guardado, esperando o momento triunfal da orquestra pra sair das cochias, e encarar a luz dos palcos.
Ele tenta achar o spot perfeito pra cantar e arrancar da platéia uma salva de palmas.
Palmas!
enquanto ele dança tentando acertar, como um animador de circo, macaquinhos o seguem de um lado para o outro, tentando fazer dele o astro maior( mas não entremos nesse mérito, se não o comentario fica pessoal demais não é?)
Falemos apenas do palco.Falemos apenas da glória dos aplausos.
Existem, são assim um tanto mirrados ainda, mas ali estão.
o tempo todo.

Solidão, carregada como se não fosse o peso do mundo, é a escolha ´máxima do criador, para dar forma a criatura.

E assim caminhamos todos, em busca duma solidão compartilhada dias depois em cada risada de mesa de bar. e é isso.

e se todos os dias um qualquer parasse pra ouvir a velha ladainha, não acreditaria que a dor vem do orador. jamais.

talvez, o palco ainda seja grande demais.
talvez todo o público precise apenas de um blecaute geral, pra que com o teatro vazio, o artista não berre mais pra que ele mesmo possa escutar. e assim ele prosseguirá em paz.

Irapoan disse...

Solidão, carregada como se não fosse o peso do mundo, é a escolha máxima do criador, para dar forma a criatura.

O criador é ingênuo, pensa Fausto, pensa que pode alguma coisa. Ele é criado ao mesmo tempo que a criatura. Submetido ao Palco.

sim, Moana, o palco é grande demais, mas a platéia é pequena -ou nula, ou quase nula. No mais, fazem ruído e se entorpecem com cerveja. No mais, escolheram cuidadosamente as roupas que aprenderam que são devidas, e se prostam como ovelhas, não para escutar, mas para serem boas ovelhas ao olhos de todos. Não é à toa que quase todas as religiões conhecem (bem) a música.

De qualquer modo, de Brahma ou de Armani, são ruído. Não são platéia. O artista grita, na esperança de ser escutado. Frente ao ruído, o que resta é gritar, não somente para ser escutado, mas para não sucumbir frente ao ruído que o esmaga. Procurava o spot perfeito, o melhor balaceamento no microfone, foi engolido pelo Palco, o soberano. Pouco a pouco, ele não vive mais a arte. A arte vive nele. E vaga, pelas ruas desertas da metrópole ou da província, a procura de alguém. Destino determinado pelas numerosas ovelhas. Dizia Hegel: a quantidade é uma qualidade negada.

Antes vedete, agora bardo. Não, nada mais importa. Os apalusos são mirrados porque são de poucos outros... artistas. E a ex-vedete segue, criada por sua arte, a procurar, por todo o canto, outras ex-vedetes, para se apresentar... ser aplaudida. E, assim, ter certeza de que ainda está viva.

Aos poucos, se unirão. aos poucos, costroem novo palco... E estarão felizes. E, felizes novamente, poderão, enfim, procurar o spot perfeito!

Mas uma delas se incomodará porque todas as outras só querem parecer boas ex-vedetes ao olhar das outras... não são platéia. são apenas ruído.

MULTICORE disse...

a loucura como talho é insuficiente. sê louco, mas por inteiro, que a loucura entrevista por ramos cega lentamente e a dor é inimiga exata da pefeição.
avança duma vez para a luz e estará pleno do mais puro eutuelesnosvoseles, sem por isso sofrer.
mas se voltares o rosto, se agarrares uma folha da árvore que te serviu de ninho, sentirás ânsias de permanecer, que o farfalhar das copas é aplauso invisível, sedução e hipnose. recusa sempre e sempre o palco, que o abraço dos galhos é acolhedor, porém não afrouxa. jurarao que teu gênio é por honra da platéia concebido, domarão tuas idéias, comerão teus frutos e insatisfeitos ordenarão que os produza em diversos tamanhos e fora de estação. antes, enlouqueça! faça-os crer que já se distrai, que nenhum pensamento assoma, e num átimo alcança o espelho. vislumbra onde o gênio é pelo gênio julgado? ali, onde repousa o eterno sim, onde todas as partes do corpo se ajustam e não há contradição, nem medo, nem volta.
queres? perder a noção da tua grandeza? olvidar a vaidade dos aplausos? ascender ao melhor de si, que é o Si Mesmo?
caminha para o sol... tão só, tão só...